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O Despertar da Força – Resenha
Existencial
Como quase todas as minhas
resenhas, esta também está atrasada. Deveria ter sido escrita há um bom tempo,
mas diversas situações do cotidiano, incluindo dois livros que me “prenderam”,
fizeram com que eu postergasse o trabalho.
Acontece que neste caso o atraso
ganha ares de alegoria: meu texto sobre o episódio sete de Star Wars demorou a
sair da mesma maneira que meu gosto por Guerra nas Estrelas demorou a surgir.
Não lembro exatamente quando
assisti os filmes da trilogia original pela primeira vez, mas tenho quase
certeza de que foi em uma sessão da tarde da vida. Também acredito que não os
tenha visto em ordem. Não sei qual vi primeiro...Assisti a segunda trilogia no
cinema e, embora existisse certo hype, não fui fisgado. Star Wars só me cativou de vez depois de
adulto quando, junto com minha esposa, revi “Uma Nova Esperança”, “O Império
Contra-Ataca” e “O Retorno de Jedi”. Fiquei empolgadíssimo! A partir daí fui atrás do universo expandido nos
livros e quadrinhos e vi que não tinha
mais volta...
A saga cinematográfica criada por
George Lucas possui, a meu ver, alguns
elementos que explicam seu sucesso. Devo
dizer que o roteiro não é um deles. Mesmo na trilogia original, não dá para
dizer que o roteiro é algo muito bem elaborado. As atuações também não são um
primor. Embora eu vibre demais com Luke Skywalker e Leia Organa, não posso
dizer que Mark Hamill e Carrie Fisher são grandes atores. A magia de Star Wars
é gerada por uma mitologia cativante, um cenário elaborado e personagens
icônicos.
Já no filme de 1977, percebemos
que a luta da Aliança Rebelde contra o Império é uma luta que se dá em
dois planos. É sim uma insurreição contra a tirania, mas é também o embate
entre o lado negro (ou sombrio, como queira) e o lado luminoso da força. Esses
poderes são encarnados nos Siths e nos Jedis. E no decorrer da série vamos
percebendo que é o desequilíbrio metafísico que está na raiz dos males
políticos.
O charme do cenário de Guerra nas
Estrelas vem da combinação, bem feita a meu ver, de elementos do passado e do
futuro. A frase de abertura mostra como
isso é costurado: “Há muito tempo, numa galáxia muito distante”. A aventura se
dá no passado, mas acontece no espaço distante. Ou seja, temos a mistura de algo retrô com ficção
científica. Alguns já disseram que Star Wars é uma espécie de faroeste no
espaço. Creio que não estejam muito longe da verdade.
Por fim, há os grandes
personagens. Pensemos na tríade principal: Luke, Leia e Han. O herói, a princesa e o malandro. O rapaz que sonha em ter grandes aventura e
que se descobre portador de um destino
grandioso. A princesa, ao mesmo tempo diplomata e guerreira. O malandro de bom
coração. Isso para não mencionar Darth Vader, o vilão que é pai do herói e que
antes de abraçar o lado sombrio foi um grande sinal de esperança. Alguns diriam: clichês. Eu respondo: arquétipos.
Chegamos agora ao filme mais
recente. Dele é necessário dizer: todos esses elementos estão lá. A mitologia,
o cenário e as personagens. A luta entre o lado luminoso e o lado sombrio
permanece e continua assombrando a
família Skywalker. O equilíbrio da força
não veio e as coisas parecem piores do que nunca. O cenário também está lá. Inclusive, o diretor J.J. Abrams fez a opção de utilizar
recursos mecânicos e não apenas computação gráfica para não romper com a
proposta estética original ao mesmo tempo em que melhora a qualidade visual.
Em relação aos personagens
icônicos é necessário dizer que eles são o ponto alto do filme. Tanto os antigos quanto os novos. As aparições de Han, Leia e Luke foram muito
bem arquitetadas, e os personagens evoluíram (Han Solo nem tanto assim, mas ele
não precisava). E mesmo os que não aparecem, como o Darth Vader e o Imperador, têm
seu legado mantido. Os novos personagens
também são bem interessantes. Rey, a
futura Jedi, e Finn, o Stormtrooper de bom coração (e que acerta quase todos os
tiros!) já caíram nas graças do público e são sucessores dignos dos rebeldes
originais.
O filme, no entanto, tem vários
pontos fracos. O roteiro talvez seja o pior deles. Há abuso de coincidências
para fazer a história andar. Isso
facilmente poderia ser resolvido de outras maneiras, o que certa “preguiça” na hora de redigir a
história. Além disso, o desejo de não errar fez com que vários dos problemas e
soluções colocados na história fossem idênticos aos da trilogia original. Em
vários momentos senti como se estivesse assistindo a um remake.
É interessante pensar, por exemplo, que nos primeiro filmes tivemos a Jornada do
Herói de Luke Skywalker. Na segunda trilogia tivemos a jornada do vilão de
Anakin Skywalker e sua transformação em Darth Vader. Nessa terceira, temos um
retorno à jornada do herói. Entendo que
esse foi um caminho seguro para a Disney, mas gostaria de ver uma outra
história e não a mesma com outros nomes. Não é nem preciso procurar muito para encontrar Obi Wan, Darth Vader e o
Imperador transmutados em outros personagens. O status do Império e da Rebelião
também não sofreu praticamente nenhuma alteração com exceção dos
nomes.
Esses problemas, no entanto, não
afetaram o sucesso do filme. Em apenas a duas semanas, a bilheteria do filme
ultrapassou 1 bilhão de dólares. Claro que isso está ligado ao marketing, Mas
ele não explica tudo. Há filmes que gastam tanto ou mais em propaganda que não
conseguem um quinto do sucesso. Há mais
em Star Wars...
Como já apontei, há uma mitologia,
uma narrativa que dá sentido metafísico à luta cotidiana. Há um cenário no qual
o passado é incorporado ao futuro e o progresso não destrói a tradição. Há personagens
com apelo universal. Heróis, princesas e malandros que funcionam como espelho
para o que há de melhor na humanidade.
O sucesso de Star Wars vem do
fato de o filme comunicar muito bem ideias e sentimentos que não conseguimos
deixar de achar fundamentais. É bom que
a ficção ajude a lembrar-nos daquilo que no cotidiano costumamos esquecer.
Com todos os problemas, a força
despertou. Sempre que o Império
contra-ataca, ela desperta e os Jedis retornam. E não há como negar, tanto no plano da crítica
cinematográfica quanto no da metáfora, que isso é razão para uma nova
esperança.
Alessandro Garcia
Doutorando em Sociologia - UFRJ
Fundador da Oficina de Valores
Fundador da Oficina de Valores
1 comments:
É um filme bom e muito interessante, sinto que história é boa, mas o que realmente faz a diferença é a participação de Adam Driver neste filme. Eu o vi recentemente em Lucky Logan Roubo em Família, você viu? A participação do ator foi fundamental. Adorei, pessoalmente eu acho que é um dos filmes de comedia mais assistidos que nos prende. A historia está bem estruturada, o final é o melhor! Sem dúvida a veria novamente, se ainda não tiveram a oportunidade de vê-lo, eu recomendo. Cuida todos os detalhes e como resultado é uma grande produção.
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