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#AvanteOficina

Por: Gustavo


Imagem: divulgação

Eu sempre me cobrei, em nome de toda a Humanidade, essa mania de premiarmos futilidade. Vou explicar. Nunca achei justo todos os aplausos e todo o dinheiro que se dá a artistas ou esportistas talentosos, ou profissionais excelentes, enquanto pessoas com características consensualmente mais louváveis muito mal recebem “obrigado”. Refiro-me aos bons pais de família, aos profissionais honestos, aos amigos fiéis, enfim, às pessoas boas.

Eu não quero aqui incorrer naquele clichê do cartaz de manifestação – “Professor, desejo a você o salário de um deputado e o prestígio de um jogador de futebol”. Não é que discorde da crítica também, mas se fosse apenas para endossar o coro, era tempo perdido escrever. O que eu quero é ir mais fundo, pensar: por que não são dadas glórias a quem sabemos que de fato merece? Por que os professores não são reconhecidos, porque os jovens valorizam mais o ídolo da tv que os pais, por que as boas pessoas são “esquecidas” na hora da “premiação”? Eu penso basicamente em três causas. Segue o raciocínio.

O raro e o louvável

A primeira conclusão a que cheguei é bastante consoladora. Na verdade, nós não premiamos aquilo que é melhor, mas aquilo que é mais raro. É justo premiar um bom cantor ou um bom atleta pela raridade do que fazem, e porque são melhores em relação aos que fazem o mesmo que eles. Explico: é fato que o que um jogador de futebol faz, apesar de ser melhor que todos os outros jogadores, ainda tem menos impacto na sociedade do que o que um professor dedicado a profissão faz, mas grandes jogadores são mais raros que os bons professores. Graças a Deus! Mas se pararmos aqui nesse pensamento, a lógica ainda parece injusta. Penso que fica menos injusto se pensarmos: premiamos aquilo que é mais raro porque não haveria gratificações suficientes com que premiar aqueles que são mais louváveis, porque, como já disse, são muito mais numerosos. Por isso julgo a raridade, em vez do mérito mais elevado, um bom critério. Mas não sozinho.

A verdadeira recompensa

Em segundo, penso no que consideramos como recompensa. Outro dia, debati com um amigo sobre aquela já citada frase de cartaz, que compara o prestígio e o salário de jogadores e deputado com o de professores. Meu argumento foi: apesar de reconhecer a injustiça dessas relações na nossa cultura, faz sentido para mim que um jogador ganhe muito dinheiro; ele trabalha com entretenimento, com multidão. Tanto sentido quanto faz que um educador, profissão evidentemente mais importante, não ganhe tanto assim. Não estou defendendo aqui a miséria para os professores, repito que reconheço a justiça da relação – que para mim está na discrepância astronômica dos valores. Mas creio que haja um erro lógico na comparação: considerar o dinheiro o valor mais elevado, a melhor das recompensas, que alguém pode merecer; ou, na mesma conta, o prestígio social.

No fundo, apesar da boa porção de justiça, há uma boa porção de erro naquela crítica também: de materialismo e de vaidade. Acredito que o bom professor, o bom pai de família, o profissional honesto, o bom amigo, recebem muito maior recompensa que os artistas, os atletas, os governantes. Poderia listar o sorriso das pessoas que se ama, a liberdade e a consciência tranquila diante dos seus atos, o bom orgulho diante da felicidade dos alunos, filhos, amigos, etc. Vou reunir tudo isso, e o que não caberia citar, numa palavra: realização. Acredito que ser boa pessoa e ser bom (notar a diferença para “fazer bem”) numa coisa realiza. E considero a realização uma recompensa maior que dinheiro e aplausos.

Unindo essa ideia à anterior, digo ainda o seguinte: para mim faz sentido que o raro receba por prêmio o que é raro e facilmente esgotável: o dinheiro e o reconhecimento público; como faz sentido que o louvável receba por prêmio o que é igualmente louvável e abundante: a felicidade e o amor dos que o cercam.

A verdadeira virtude

Deixei por último aquilo que julgo mais bonito nisso tudo. Até aqui falei do que julgo que mereça reconhecimento e no que consiste a recompensa. Isso porque tratei a coisa toda como uma verdadeira competição. Fiz de propósito, porque é assim que normalmente são pensadas essas relações. Mas a verdade é que aqueles que escolhem esses caminhos onde não há prêmios e aplausos, esses que escolhem fazer um bem silencioso, sem pensar no retorno que teriam, ou pensando no retorno e abrindo mão dele, esses não são movidos por nenhum espírito de comparação, por nenhuma ambição material ou moral, mas porque quiseram, simplesmente escolher o bem. 

Vejo, por exemplo, na escolha dos pais, friamente, só “perdas”: menos dinheiro, menos tempo, cansaço, trabalho, segue a lista. E ainda assim, muitos escolhem essa vida. Vejo nos educadores, na vanguarda de toda uma classe de pessoas que fazem do seu trabalho contribuição para o bem dos outros, na escolha por essa profissão muita dor de cabeça, trabalho também e até mais, pouco dinheiro, pouco apoio e, hoje, até risco à integridade física. Nada de louros, estátuas e placas com seus nomes. Nada de bens materiais, conforto.

Há uma profunda humildade em cada mãe trabalhadora que, cansada, canta para o filho dormir à noite, sabendo que não vai receber um Emmy no fim do ano, em cada pai de família que não vai receber uma Bola de Ouro da Fifa depois da pelada com o filho domingo de manhã. Em cada professor que decora livros muito maiores que roteiros hollywoodianos sem nenhum fio de esperança por um Oscar

Há, sim, muita humildade em cada pessoa que se realiza levando uma vida comum, de sacrifícios, em que pouco se sai do triângulo casa-trabalho-estudo, em cada pessoa que encontra sua felicidade no pouco do dia a dia, nos pequenos bens que vai fazendo e vendo dar fruto na vida das pessoas a sua volta.

O que eu quero dizer é: muito se compara e se fala na injustiça e desigualdade de certas relações, no reconhecimento que se dá a uns por futilidades e se nega a outros que são realmente importantes. Muito se grita o exagero no louvor a artistas e atletas em oposição ao esquecimento de pessoas que fazem bem palpável às pessoas a sua volta e à sociedade. Mas alguém já perguntou a uma pessoa dessas, que vou chamar de boas, alguém já perguntou a uma pessoa boa se ela gostaria de aplausos e dinheiro pelo que faz?

Afirmo segura e categoricamente que, se o fizessem, receberiam uma negativa. Porque: ou o bem praticado é desinteressado ou não é verdadeiro bem. E há nesse desapego humilde, que recusa até a menor das recompensas, como um simples elogio, a verdadeira virtude: o amor.


Gustavo Cardoso Lima
Estudante de Jornalismo - UERJ
Oficina de Valores

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