MUDAMOS!

Estamos de casa nova! Acesse www.oficinadevalores.com.br, para acompanhar nossas postagens!

Esse blog aqui será desativado em breve. Adicione a nova página aos seus favoritos!

#AvanteOficina

00:54
3
Por: Alessandro

Imagem Divulgação


De que lado você está?

Essa foi a frase que serviu para promover a minissérie Guerra Civil em 2007 . Esta história, escrita por Mark Millar e desenhada por Steve Mcniven, gerou o maior rebuliço entre os leitores de quadrinhos. Ela colocaria Capitão América e Homem de Ferro em lados opostos de uma batalha sem precedentes. E praticamente todos os heróis da Marvel estariam alinhados em um destes polos.

Os heróis brigarem não era exatamente uma novidade. Desde os primórdios da Marvel isso acontece. A novidade da Guerra Civil era que esse conflito não aconteceria por um mal entendido a ser resolvido no fim da história ou pela manipulação de um vilão contra o qual os heróis se uniriam. Nada disso. Eles lutariam por razões ideológicas e, prometia a Marvel, ao fim haveria um lado vencedor.

O grande motivo da briga entre os super-heróis foi a lei de registro de super-humanos que dizia que todos os heróis deveriam abrir mão de suas identidades secretas, além de passarem a atuar sob a supervisão do governo americano. A história colocava questões interessantes: quando um herói comete um erro, como responsabilizá-lo? Quem ressarce os civis prejudicados nas brigas entre superseres? Caso os heróis sejam registrados pelo governo, serão utilizados para fins políticos? A liberdade individual de quem tem superpoderes pode ser desrespeitada?

Lembro que acompanhei cada um dos sete números da história, e suas várias repercussões nas revistas mensais, com muita atenção e ansiedade. Falava sobre o assunto em fóruns da internet e com os (poucos) conhecidos interessados pelo tema.  De que lado eu estava? Inicialmente com o Homem de Ferro, mas, assim como o Homem-Aranha, mudei meu posicionamento no decorrer da história.

Quando o titulo Guerra Civil foi anunciado para o terceiro filme do Capitão América, algo parecido com o vivenciado em 2007 aconteceu. E em uma escala muito maior. Falou-se muito sobre o filme e a internet foi dividida com as hasthtags #teamiron e #teamcap. O hype para o filme foi alto e ao que parece ele não decepcionou: as respostas tanto do público quanto da crítica foram positivas.

Sem querer entrar no mérito de o quadrinho ser ou não melhor que o filme, é importante lembrar que não estamos diante de uma adaptação da HQ, mas de um longa-metragem inspirado por ela. Isso foi dito logo de cara pela própria Marvel. Há diferenças substanciais entre a minissérie Guerra Civil e o filme Guerra Civil. A primeira delas está na própria razão do conflito. Embora a questão dos super-heróis trabalharem ou não para o governo esteja presente na versão cinematográfica, não há nesta a problematização a respeito das identidades secretas. Além disso, embora o Acordo de Sarkovia seja o pano de fundo da briga entre o Team Cap e o Team Iron, o estopim que leva à luta não é a lei. Se nos quadrinhos não havia vilões, no filme, boa parte do que acontece é fruto de um plano do vingativo Zemo.

Do ponto de vista da execução, Capitão América: Guerra Civil possui muitos pontos positivos e alguns negativos.  Entre o que merece ser elogiado encontra-se a apresentação do Pantera Negra e do Homem Aranha ao público. É admirável a forma como, em uma trama com tantos personagens, os irmãos Russo conseguem introduzir os dois de maneira muito competente.   Outro elemento bem feito no filme é o ritmo. A história é desenvolvida dentro da ação. Diálogos ágeis fazem a trama avançar sem que o clima de tensão seja em momento algum diminuído. O filme parece ser todo ele um clímax.

Como pontos negativos, há que se mencionar a forma como a passagem do tempo foi mal conduzida. Deixo apenas um exemplo: a chegada do Homem de Ferro na base da Hidra praticamente ao mesmo tempo em que o Capitão e o Bucky. Caramba, depois dos dois fugirem em um caça, Tony Stark levou o Máquina de Combate ao Hospital, esperou ele fazer alguns exames, pegou um helicóptero e foi até uma prisão no meio do Oceano para apenas depois seguir para a Rússia. Penso que, para chegar tão rápido, ele deve ter pedido o Flash emprestado à DC.

Outro aspecto negativo foi o desfecho. Embora seja possível entender a reação do Homem de Ferro levando em conta o contexto emocional em que estava, fica difícil aceitar que tudo foi fruto de um masterplan do vilão. Este queria que o seguissem para somente ali revelar uma informação que faria com que os heróis desejassem matar um ao outro. Bom, dadas as inúmeras coisas que poderiam acontecer para atrapalhar o desenrolar do estratagema, podemos tirar duas conclusões: ou Zemo era onisciente ou o plano era bem ruim e ele teve muita sorte.

Pensando um pouco na história e no desenvolvimento dos personagens, é legal perceber que o filme tenta dar níveis ao conflito e explorá-lo, ainda que superficialmente, tanto do ponto de vista político quanto do pessoal.

 O Homem de Ferro sente-se culpado e age como se o mundo estivesse sobre suas costas.   Seus erros entram conflito com seu narcisismo e ele não sabe lidar com isso. O medo de que o futuro venha repetir ou radicalizar o passado faz com que encontre na regulação da ONU uma espécie de alívio para o fardo que carrega. Essa adesão movida pela culpa leva o angustiado Tony Stark a cometer erros ainda maiores, como levar um adolescente inexperiente para uma batalha entre soldados superpoderosos.

Já o Capitão América pensa que a responsabilidade não pode ser delegada e que deixar a cargo dos políticos a decisão de como os Vingadores devem agir colocará em risco a missão que desejam cumprir.  Apesar dessa posição ideológica, o grande motor das ações do sentinela da liberdade é a lealdade a seu amigo Bucky Barnes, que cometeu atitudes terríveis quando sua mente estava controlada pela Hidra. Para proteger seu amigo de pessoas que não querem julgá-lo, mas assassiná-lo, Steve Rogers coloca-se contra a lei e passa a ser visto como um criminoso fugitivo. Em nome da amizade e dos ideais que acredita, corre o risco de jogar fora o respeito do governo que o criou e mesmo da população que o tem como um herói.

Embora o filme seja mais pró-capitão, é inegável que ele tenta dar a entender a motivação dos dois personagens. E busca mostrar também como, em nome de um bem maior, erros graves são cometidos. Não é difícil identificar-se com Steve ou Tony e, em alguns momentos, surge a questão: De que lado eu ficaria?

Outro aspecto interessante da trama de Guerra Civil é que ela brinca com o nome Vingadores e traz uma reflexão sobre a vingança. Seja no Pantera Negra, seja em Zemo, ela permanece presente  no filme inteiro. E o confronto final entre estes dois personagens faz com que pensemos nas duas atitudes que se pode tomar diante do desejo vingativo: deixar-se consumir por ele ou superá-lo e buscar uma justiça superior à desforra.

Ao fim, o filme teve um saldo bastante positivo. E deu rumos muito interessantes ao Universo Marvel no cinema. Terminamos com a sensação de que o melhor ainda não foi feito. Penso também que no mundo que vivemos Capitão América: Guerra Civil traz questões importantes e lembra que nossas disputas nunca são puramente ideológicas, mas estão intimamente entrelaçadas com nossos dramas individuais. Também recorda que mesmo pessoas bem intencionadas e com bons objetivos podem cometer erros quando passam a justificar quaisquer meios em nome de bons fins. Apesar de ter tido como centro a briga entre os heróis, creio que o filme mostra que o conflito pode até ser inevitável, mas a guerra está sempre condicionada a (más) escolhas.


Alessandro Garcia
Doutorando em Sociologia
Fundador da Oficina de Valores

3 comments:

Unknown disse...

Sensacional o texto, mandou muito bem.

Alessandro Garcia disse...

Valeu pelo comentário!

Professor Juberto Santos disse...

Parabéns pelo texto!!!

Postar um comentário