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#AvanteOficina

19:42
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Por: Rhuan

Foto: Nelson Perez


Hoje, 13 de outubro, em pleno dia D do blog da Oficina, o tradicional Fla x Flu virou notícia. Infelizmente, não foi pelo belo futebol apresentado ou pela festa das torcidas, mas sim pelos erros do árbitro. Dentre outros reclamáveis, foi um, ao final do segundo tempo, que trouxe alívio e revolta ao coração dos torcedores. O Fluminense marcou um gol, porém seu autor estava inquestionavelmente impedido. Num primeiro momento, árbitro e auxiliar anulam o gol. Em seguida, enquanto o bandeirinha mantem a posição, o juiz valida o gol. Criou-se então uma grande confusão e logo o campo estava cheio de pessoas que não deveriam estar ali. Por fim, o juiz voltou atrás e acompanhou a decisão do auxiliar, anulando o gol.

Decisão aparentemente correta, visto que o autor do gol estava impedido, porém polêmica. Acontece que, aparentemente, o juiz confirmou o impedimento a partir de uma informação externa ao espetáculo. Coisa que a regra não permite. A importância do jogo só fez tudo piorar. O Flamengo vencia por 2x1 e se consolidava na vice-liderança, reduzindo sua distância do Palmeiras; já o Fluminense precisava empatar para não se afastar da tão sonhada vaga na Libertadores.

Tendo resumido o fato e já me encaminhando ao sentido do texto, preciso fazer um último adendo... Sou tricolor. Logo, fico triste pela derrota. E da mesma forma que entendo que o juiz errou ao receber influência externa (se é que recebeu), entendo que o gol era inválido.

Contudo, esse texto não versará diretamente sobre o resultado do jogo, mas sim sobre reflexões causadas por ele. Na verdade, o escopo do texto está voltado à repercussão do dito erro, às possíveis consequências e à nossa frequente falta de solidariedade ao criarmos juízo sobre os erros alheios. Aqui, reforço que o Fla x Flu é apenas uma analogia, e o erro, um exemplo.

Bem, de início, retornemos ao jogo e às possibilidades. O juiz teve um erro inicial (validar um gol inválido a despeito de seu auxiliar. Logo em seguida, segundos depois, ele voltou atrás, chamando o auxiliar para conversar. Ali (onde teoricamente a comunicação externa aconteceu), começou uma confusão que durou mais de dez minutos e que seria resolvida por uma sentença igualmente difícil: validar o gol inválido ou anular o gol pelo motivo errado. Em outras palavras, cometer um erro com uma intenção boa ou, cônscio do caminho errado, atingir o objetivo “certo”. 

Nesse momento já não é difícil imaginar quantas vezes ao longo da nossa vida enfrentamos situações parecidas. Convenhamos, escolher entre uma alternativa ruim e uma boa é fácil. Difícil, porém, é justamente ter que escolher entre duas coisas boas ou duas coisas ruins. É justamente a este tipo de situação que a angústia é atribuída. É aqui que o coração aperta. É aqui que você procura o mal menor.

Agora, tendo em vista a seriedade da decisão (a sua ou a do juiz), imagine que a escolha afetará a vida de outras pessoas. Imagine que você tem que escolher, dentre as duas torcidas, qual vai chatear; se você vai decepcionar seus amigos ou seus familiares... Complicou um pouco mais, né? Mas talvez aqui você se lembre de outras situações parecidas que viveu. Acontece o tempo todo, eu sei. Geralmente, nesses momentos, ficamos pensando em um jeito de absorver sozinhos todas as consequências da decisão, sem chatear ninguém, mas não é fácil... 

Por fim, imagine que sua decisão vai repercutir ao longo de semanas ou meses. Imagine que a sua angustiante escolha entre o “errado” e o “errado” vai te estigmatizar. Imagine-se figura pública, se ajudar, afinal, guardadas as proporções, todos somos figuras públicas. Aqui o peso da decisão se multiplica. Ser taxado por uma decisão ruim é assustador. Arrisco, ainda, dizer que é esta a causa de muitos suicídios. Felizmente, essa situação, do jogo, não chega a ser tão grave. 

Um exemplo talvez ajude:

Acabo de ler que o Fluminense entrará com um recurso pedindo a anulação do jogo. Beleza... O problema é que pedirá juntamente o afastamento do arbitro. Medida tomada como justa por muitos dos meus amigos, que somaram suas vozes ao grito que clamava pelo fim da carreira do profissional. Gritos apaixonados, eu sei, mas que ilustram nossa postura pouco solidária frente aos erros alheios. 

É só futebol, dirão alguns. E de fato é, para mim e para eles, mas para o dito juiz é sua carreira, sua profissão. Aqui, encontra-se outro traço da nossa falta frequente falta. Mais grave ainda é saber que o tal juiz tem currículo. Apitou jogos de Copa do Mundo (a livre docência da sua carreira), mas ainda assim esse erro é tido suficiente para taxá-lo incompetente de hoje em diante. É o suficiente? 

Sabe aquele ditado que diz: “o futebol imita a vida”? Talvez seja verdade. Pensemos que, tal como o juiz, somos passíveis a erros, e que esses erros, por menores que sejam, às vezes nos colocam frente a escolhas angustiantes. Lembremos ainda que, tal como ele, somos observados por olhos julgadores, que nos avaliam o tempo todo. E que, mesmo decidindo pelo aparente “mal menor”, podemos ter todas as nossas realizações reduzidas a nada. E então, qual escolha deve ser feita? 

Sobre o caso do juiz, não sei. Particularmente, acredito que se tivesse escolhido por validar o gol seria julgado de maneira ainda mais incisiva. Porém, chamo atenção para o fato de que a maior preocupação das pessoas frente a decisões angustiantes é o julgamento alheio. Seja “chatear” alguém, seja ser “taxado” por outrem, é a reação alheia que mais dói. 

Sendo assim, me parece que a melhor ajuda que podemos oferecer a um amigo angustiado não é auxilia-lo na busca pelo “mal menor”, pelo caminho mais fácil, mas sim um olhar solidário e afetuoso. E que, depois de muito lembrar das nossas angústias que consigamos nos lembrar que somos os “alheios” das decisões de outras pessoas. Que consigamos antecipar os abraços e dizer que independentemente da decisão, da possibilidade de me machucar ou do meu time perder, eu valorizo mais aquela vida. 

Esse tipo de postura, aplicado repetidas vezes, pode criar uma onda de positividade tão grande que possibilite comemorarmos o fato de que um juiz de futebol, assumindo a possibilidade de findar sua carreira, reconheceu o próprio erro de se deixar influenciar por uma comunicação externa, voltou atrás e anulou um gol irregular.

Rhuan Reis
Licenciado em História

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