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#AvanteOficina

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Por: Cleber
 
“Vocês precisam continuar cantando, porque se vocês desistirem não vai ter mais gente que vai cantar pra esse mundo né? Então não desistam!” (Thomas Machado, ganhador da última edição do The Voice Kids).

“Juan, você merece muito mais do que isso! Não tenho palavras para explicar o que você é!” (Adversário derrotado pelo Juan Carlos, finalista, na disputa pela vaga na final).


“Eu não levo isso aqui como uma competição não, levo isso aqui como uma brincadeira de família!” (Valentina Francisco, finalista do programa).


Estas são frases ditas por alguns dos pequenos artistas que participaram do The Voice Kids. Só por elas já percebemos que o adjetivo pequeno só se refere mesmo a idade ou estatura deles, porque, interiormente, eles são gigantes. Não faz muito tempo, assisti a um vídeo no qual a seguinte pergunta foi feita para adultos e para crianças: “se você pudesse mudar alguma coisa no seu corpo, o que você mudaria?” Os adultos demonstraram ter insatisfações pessoais apontando o que mudariam. É importante notar que a pergunta não especificava se eles gostavam ou não do corpo, ela era bem aberta. Você poderia mudar o que você quisesse. Os adultos se limitaram a mudar o que eles julgavam ser um defeito ou algo que não lhes agradava. Ao contrário, as crianças deram respostas como: “eu gostaria de ter asas”; “ter patas de guepardo, assim eu poderia correr como eles!”; “Eu teria uma boca de tubarão”. E uma das crianças disse: “eu não mudaria nada”. 


Um fato que chama a atenção é que muitos adultos justificaram sua resposta fazendo lembrar de quando eram crianças, dizendo que as outras crianças caçoavam deles por ter testa grande, orelha grande, olhos pequenos. Mas, aparentemente, as crianças que estão passando por esta fase não se importam. A menina que disse que não mudaria nada tem uma beleza fora dos padrões da sociedade moderna. Ela apresenta um evidente sobrepeso e poderia dizer que queria ser mais magra, mas não o fez. Talvez você esteja se perguntando: o que tem a ver o The voice Kids com essa pesquisa? Tudo a ver! Explico-me.


Comumente, crianças são limpas de preconceitos a respeito de si mesmas e dos outros. Elas estão passando agora pelos processos que vão definir os adultos que elas serão. Em sua maioria, ainda não foram profundamente magoadas ou feridas a ponto de se tornarem infelizes, insatisfeitas ou rancorosas, seja consigo mesmas, com a vida ou outras pessoas. Ao contrário, os adultos, que obviamente já passaram há tempos por essa fase, demonstram essas marcas e feridas que a vida traz. Feridas e marcas que, muitas vezes, os próprios adultos imprimem nas crianças.


No ultimo domingo, quando Thomas foi anunciado como vencedor do programa, mais uma vez ficou clara essa diferença. Pipocaram na rede vários comentários bastante pesados sobre a vitória dele, muito provavelmente vindos de jovens e adultos. Enquanto que, no palco, o único choro era o do próprio Thomas e com certeza não era um choro de tristeza. Valentina e Juan, os outros dois finalistas, estavam com um sorriso estampado de orelha a orelha. Crianças são mais transparentes e, diante de uma carga emocional tão grande, se tornaria quase impossível disfarçar a infelicidade ou o sentimento de injustiça. Mas esses sentimentos não estavam no palco, não havia o que disfarçar. Enquanto isso, do outro lado das diversas telinhas, esses sentimentos foram externados com frases do tipo: “deixou para o povo decidir é isso que dá”, “quando o povo vota o resultado é sempre esse, não é o melhor que vence”. E muitas outras frases e posts do gênero. Olhando para essa reação, olhando para o vídeo sobre o corpo e me recordando de muitas outras cenas do The Voice – algumas inclusive exibidas durante o programa de Domingo – eu me fiz uma pergunta que repasso a vocês: será que conseguimos identificar em que momento nós nos perdemos?


Sim, todo adulto já foi criança um dia, já teve essa pureza e inocência do olhar. Claro que a vida e as experiências marcam e modelam a gente. Mas não precisamos abandonar a gentileza ou o companheirismo por causa dessas situações. Não é difícil achar na internet um vídeo lindo de um garoto loiro que se pinta com lama e diz que quer ser negro. Não há preconceito na criança, ele é inserido ao longo do desenvolvimento. A competitividade é ensinada de uma forma que o adversário é visto como inimigo, e não como adversário apenas. A frase da Valentina mostra que ela via os dois adversários como competidores, o final do programa deixa claro que ela não os via como inimigos. Ao longo de todo o programa, vários eliminados deixaram a mesma impressão, enquanto muitos adultos demonstram um sentimento oposto.

É interessante destacar aqui que, nós adultos, diante de situações assim, costumamos apontar o dedo e dizer que as pessoas que possuem tais práticas têm uma atitude infantil. Caramba, não é infantil. Os eventos acima estão aí para mostrar que essas atitudes são tudo, menos infantis, pois as crianças não fazem isso. Quando conversávamos sobre esse assunto, um amigo disse a seguinte frase: “chamar o público de infantil é ofender a infância”. Ele tem toda razão. Para usar uma expressão popular nos dias de hoje, as crianças estão “sambando na cara da sociedade”, ensinando como deve ser uma competição saudável. Enquanto muitos de nós, adultos que reivindicamos ser mais maduros pelo simples fato de sermos adultos, estamos passando uma vergonha danada pelo nosso mau exemplo. Penso que precisamos fazer uma autoanálise sincera e procurar resgatar em nós essa pureza e essa beleza humana vista nessas crianças do The Voice Kids.

Olhando para tudo isso, fica impossível não lembrar e, mais do que lembrar, entender melhor o que um homem muito famoso disse uma vez: “Em verdade vos declaro: se não vos transformardes e vos tornardes como criancinhas, não entrareis no Reino dos céus” (Mt 18, 3). Acredito que diante de tudo isso, fica claro o porque de Jesus Cristo fazer tal comparação. Onde está o teu coração de criança? Mesmo para quem não acredita em Deus, se resgatarmos em nós esse coração de criança, seremos pessoas melhores; e isso por si só já é motivo mais que suficiente para fazê-lo.



Cleber Kraus
Doutorando em Ciências Ambientais

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